Até uma semana atrás éramos pessoas normais, crescendo em igualdade e partilhando bens. Fizemos monumentos juntos, apreciávamos a natureza e a cordialidade. Até uma semana atrás, nos cumprimentávamos sempre pela manhã. Mas as coisas mudaram de uns dias pra cá. Começamos a apreciar demasiados a filosofia e o conhecimento. Não que nunca gostamos disso, mas começamos a dar muito valor a eles. Tornamo-nos folgados e obrigamos os outros a cuidar dos aferes diários (os afazeres diários!!! Justo aqueles da qual ocupávamos quase todo nosso tempo) e passamos a parar durante horas somente para pensar. Mas, pensar em que? De onde nós viemos? Qual o sentimento que tínhamos? Qual o nosso desejo? Liberdade???
Sim, queríamos ser livres! Queríamos ser responsáveis por nossas próprias conquistas. Queríamos ter o mérito pelos mais grandiosos feitos. E fizemos. Nos tornamos “livres” há mais ou menos quatro dias. E a partir daí, passamos a trabalhar por nosso ideal. Descobrimos que ser livre seria ser vangloriado por nossas ações, mas que isto nos custaria muitas horas de serviço. Então, começamos a trabalhar dia noite nesses últimos dias. Dia e noite, sem intervalos. Paramos de fazer nossas preces diárias, afinal, não temos mais tempo para isso e só precisamos de nosso próprio esforço. Não olhamos mais se nossos filhos estão indo bem, eles saberão se virar sozinhos. O problema é que todos nós queríamos a honra de terminar nosso projeto, mas cada um queria fazer de um jeito. A discussão começou a ser tão grande, que nas últimas horas nos dividimos em grupos e trabalhamos isolados, cada um olhando carrancudo para o outro. Até que dois grupos atrás do nosso começaram a discutir. Foi uma discussão boba, eu sei, mas anda acontecendo muito por aqui. Eles apenas queriam mostrar que o projeto deles estava mais certo que outro qualquer, então a briga começou. Tentamos separá-los, mas eles tornavam a brigar.
Por isso os trancamos em um quarto. O clima ficou sombrio entre nós depois disso. Um olha desconfiado para o outro e os encarcerados não param de praguejar e ofender-nos. Ainda por cima, tentam jogar um contra o outro. Não há mais confiança. Estamos exaustos, trabalhamos sem parar e, ainda por cima, não conseguimos dar um voto de companheirismo ao colega de convivência.
Mas, agora, no momento em que escrevo isso, o clima é mais tenso ainda. Os encarcerados estão ficando incontroláveis. Eles querem sair para terminar seu projeto e acho que estão conseguindo arrombar a porta. Cada um olha para o outro, para saber quem irá se unir a eles ou quem irá defender a si próprio. Não duvido que no final decidamos isso de forma violenta. Estou ouvindo os estalos da porta. Eles vão sair. Não há mais nada a fazer.
Eu só gostaria de saber se há outro lugar em que as pessoas ainda vivam em paz.
Ass: Membro nº S21 do Grupo de Desenvolvimento “Humanidade”
Centro de Convivência nº1 – “Terra”
Para: qualquer outro Centro de Convivência que possa ler minha carta. Precisamos de ajuda !
sábado, 12 de janeiro de 2008
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5 comentários:
Nossa, Ma!! DEMAIS! Gostei mesmo!
Me faz lembrar o ditado antigo:
"Peretipos Pepperoni, Pepperoni fuinha Perétipos"
Ainnnn ta foda mesmoo!
Todo mundo só pensa no seu projetoo e esquece que sozinho não vai a lugar nenhum...
[consegui comentar sem nenum X...]
sopkaokspaaospkkas
beeijos math
te amoo
Owwwwwww
vaii no meu, te indiquei pra um meme
meme = corrente dos blogueiros
*-*
beeeijinhos
te amo
caramba..
foi vc mesmo que escreveu??
tenho que confessar...ficou mt bom!
parabens..
e como diz seu irmão:
"Peretipos Pepperoni, Pepperoni fuinha Perétipos"
Tá aí outro blog que vou entrar todos os dias... Parabéns, Mateus! Você é gênio, igual seu irmão... Muito da hora mesmo! Vi que linkou meu blog, valeu, cara! Obrigado!
PS: Pode postar todo dia, seu blog é daqueles que não dá pra começar o dia sem entrar e ler antes! EBA!
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