quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O que acontece quando a personagem vira o ator?




Se existe algo importante para a carreira de um ator, é a forma como ele encarna a personagem. Afinal, nem sempre é fácil agir e pensar como alguém que você não é, e necessita de muito dom e preparo para ser convincente. Fixar-se em pontos cruciais para as causas da personagem agir de tal forma fará com que ele compreenda o estado de espírito daquele que ele interpreta e poderá traz à tona um personagem marcante para a história do cinema ou do teatro. Por outro lado, se o ator não tem essa capacidade, acabará fazendo um personagem ridículo e com certeza porá em risco a bilheteria do filme.
Porém, mais importante do que encontrar pontos externos para interpretar personalidades distintas, é encontrar pontos internos. Encontrar em si mesmo aquilo da qual você compartilha em comum com a personagem. Aquela experiência que os dois tiveram, ou determinada linha de pensamento e até mesmo certa característica psicológica. Fazer uma ligação pode acentuar determinadas ações que a personagem tomar e realmente parecer convincente quando está atuando tal cena. Não só será convincente, como será real, afinal é exatamente a mesma atitude que o ator tomaria. Se essa ligação for forte o bastante, talvez surja uma cena marcante na história do cinema, algo da qual todos se lembrarão. Algo que não fará somente parte do filme, mas da história do ator.
Mas, e se essa ligação for tão intensa que penetrará na vida pessoal do ator? E se o fictício se tornar realidade? O que acontece quando a personagem vira o ator?
Heath Ledger, filho de pais separados, ingressou no mundo da atuação como o Peter Pan, a única criança no mundo que não envelhece. Teve muitas oportunidades a partir de então, mas foi estrelando o sucesso “10 Coisas Que Odeio em Você” que as portas se abriram para a fama. Desde “O Patriota” até “Coração de Cavaleiro”, Ledger demonstrou ter uma carreira promissora que o consagraria. Porém, foi no filme Ned Kelly que ele me chamou a atenção. O ícone australiano, que já havia sido interpretado por Mick Jagger (sim, Mick Jagger, vocês ouviram bem), Ledger deu seriedade a história do revolucionário australiano, já até homenageado nas Olimpíadas de Sidney, que fugiu das tropas australianas devido a injustiças acometidas sobre sua família. O filme conta ainda com Orlando Bloom, Geoffrey Rush e Naomi Watts (que, conhecendo na filmagem, teve um relacionamento com ela na vida real por dois anos). Imortalizado como o Capitão Barbosa, Geoffrey Rush se torna um vilão histórico, postando-se como um líder destemido e ao mesmo tempo respeitando seu oponente. Mas, acima de tudo, é Heath Ledger que inspira coragem, que enfrenta a morte frente a frente e ainda tem que agir como um irmão mais velho, cuidando de sua família. Ele põe sua couraça e faz frente a um batalhão de soldados, nem que isso lhe custe a vida, Ned Kelly há de lutar pelo que é correto e nunca se entregar.
E na vida real, Ledger encarou muitos desafios. Após o polêmico “Brouckback Mountain” (da qual não assisti e não pretendo), O ator australiano explodiu na mídia. Perdeu duas indicações, mas ganhou atenção por todos os tablóides e revistas. E toda entrevista que ele dava, a perturbação era a mesma: “Ele não se incomodou de atuar como um homossexual?”. Certo que era o serviço dele, mas isso o abalou psicologicamente e profissionalmente. Teve então, um relacionamento com uma das atrizes do filme, da qual gerou uma filha, nascida em 2005. Porém, algum tempo depois, sua esposa o abandonou e conquistou a guarda da menina. O acumulo e pressão sobre toda a máquina que saía flash fez com que ele ingerisse calmantes (provavelmente até mesmo drogas).
E então, caminhando pela estrada da vida, Ledger se deparou com um portão irônico, e ao mesmo tempo macabro. Era branco, mas também sombrio. Parecia rir, mas trazia sofrimento. O portão o fazia um convite e Ledger aceitou, afinal eram muito parecidos. “O que acontece quando a personagem vira o ator?” era o que ele iria descobrir muito em breve, quando aceitou atravessar o portão com as inscrições “Coringa”.
Sim, o vilão do Batman sempre foi um mistério a psique humana. Sarcástico mas letal, o maior vilão do homem-morcego agia de forma previsível, porém pondo em risco vidas humanas. Seu gás letal matava uma pessoa sorrindo enquanto deixava os policiais com a pulga atrás da orelha. Ele era o oposto de Batman, e ao mesmo tempo exatamente igual a ele.
E no mundo do cinema, chamou-se Jack Nicholson, o Coringa em pessoa, para interpretá-lo. Atuando exatamente como o Coringa dos quadrinhos, Nicholson estreou a onda de filmes do Batman com chave de ouro, e trouxe ao mundo uma visão de vilão diferente: alguém como nós, com sentimentos em um momento, e agindo de forma inusitada do outro. Alguém como nós, que não mede esforços para conseguir o que quer. Afinal, o Coringa nada mais é do que uma caricatura de uma determinada área das atitudes humanas.
E algumas décadas depois, decidiram trazer o Coringa novamente. Porém, como todos querem fazer, apresentar sua própria visão do personagem. E lá veio um Coringa muito mais sombrio, muito mais dentro de si próprio, sarcástico mas psicótico, amedrontador. E Ledger, em seu estado depressivo, soube muito bem fazer a ligação “ator-personagem”, de tal forma que você vê, na tela, uma nova pessoa aflorar. Ele deixou de ser Peter Pan, ou Ned Kelly. Não existia mais um caubói apaixonado. Agora, nasceu a essência acumulada da dor e da vergonha. Uma gargalhada letal que ecoou de seu pulmão até os ouvidos do mundo. Heath Ledger deu sua ultima risada. Ele interpretou o Coringa, ao mesmo tempo que contou ao mundo sua “Piada Mortal”. Foi então, um período depois de terminada as filmagens do Batman, depois que o ator teve que se desligar da personagem, da qual havia um vínculo que Jack Nicholson alertava a Ledger ser tão perigoso. Sim, o Eterno Coringa-Nicholson sabia que este novo personagem era macabro demais. Sabia que um estava tomando a vida do outro como um simbionte. Ele provavelmente tinha em sua mente a resposta para a questão tema deste tópico, e sabia que era letal.
Infelizmente, Heath Ledger faleceu no dia 22 de Janeiro de 2008. Como seu último papel, ele partiu de forma sombria e misteriosa. Como o seu primeiro papel, Heath Ledger nunca vai envelhecer e ficará sempre vivo nas suas histórias. Porque todas as crianças crescem, menos uma...


4 comentários:

Jéssica Teles disse...

caraa, eu não conhecia esse ator [como eu te disse aquele dia]
mas quase chorei aquii :x

tadinho deleeeeee meu deuss
=/

beeeijos math

Felipe Gomes disse...

bem..

primeiro: vc ta escrevendo muito, moleque..¬¬

haha


segundo: o peter pan é o melhor!

Eric Vanucci disse...

Fantástico comentário! Parabéns!

Israel Oliveira dos Santos disse...

cara.....o que aconteceu com Heat Leagger (se é assim que se escreve)...é algo que nunca vamos saber 100%....


















































Fim