sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ensaio: Épico

(...)
- E que a recíproca seja a mesma! Mostraremos a eles a agonia que nosso povo sentiu! Até o findar do dia, eles tomarão conhecimento de nosso poder!
A ponta de sua espada parecia tocar as nuvens. Como em resposta, outras duas mil espadas desembainharam-se e cintilaram no ar.
- Lembrem-se o que eles fizeram aos nossos filhos e mulheres. Recordem-se da dor que causaram a nossos pais e mães. Revivam em seus corações os irmãos que perdemos. Mostremos a eles que a vingança de nosso povo queima mais que ferro retirado da fornalha e que nossos pés cavalguem sobre eles tão pesadamente como um cavalo selvagem.
O brado dos homens atrás de seu líder era ensurdecedor. Mas em um breve passar de momento, tudo se silenciou. O horizonte à sua frente, uma linha longa contornou a encosta das colinas e desceu como uma sombra sobre os campos. Em poucos minutos todo o verde da planície ficou escuro e coberto de homens e cavalos, vindos em uma marcha contínua e toda a coragem dos guerreiros pareceu se exaurir, dando lugar a um vácuo em seus peitos, tocado pela gélida sensação de morte.
O silêncio mortal do exército o incomodava e em sua mente não havia mais palavras que pudessem motivar seus guerreiros. Como se não bastasse, um atalaia chegou as pressas em seu cavalo. Desmontou de forma precipitada, tropeçando e se postou ofegante:
- Senhor. Pelo sul. Mais homens se apressam armados. Muitos – não conseguia pronunciar direito e estava em completo desespero.
- Acalme-se, homem. Quantos homens estimam-se ter?
- Quinze mil. E não conto os que estão vindo a nossa frente. O flanco esquerdo não suportaria mais de hora nessa batalha!
- Pegue seu cavalo e volte à cidade. Peça ao rei que separe cada homem, jovem ou idoso, que tenha capacidade de levantar uma espada, que venha ao nosso encontro. Aos demais, que partam imediatamente para qualquer lugar onde sejam bem acolhidos. E que rezem por nossas vidas.
O atalaia subiu em no cavalo e disparou, tanto como a flecha de um arqueiro em disputa, impulsionado pelas palavras do comandante, que se voltava para falar ao seu exército novamente:
- Homens, desbravadores, mercadores, pais de família. Dessa noite não passaremos. Não é em vão, porém, nossa morte. Pois ou tombaremos como heróis ou viveremos como os mais sortudos deste mundo. Que assim seja nossa prece, mas que nossa lâmina parta como a quem não teme. Se até nos vem cem homens, lutaremos como se cada um fosse cento e cinqüenta! S eles lutam tendo por certo a vitória, nós lutaremos tendo por certo nossa morte!
Cada um, sendo o mais hábil ou o mais atrofiado no manejo, apertou com maior força o cabo de sua espada enquanto em seus lábios saíam preces de misericórdia. Pouco a pouco os campos se encobriam por mais homens e a sombra do gigantesco exército se aproximava mais e mais.
- Lutemos, irmãos. Não pelo que nos é certeza. Mas pelo que nos parece impossível!
E não há homem vivo hoje que possa explicar o mistério que cerca o findar desta batalha(...)